quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Solidez da economia brasileira convive com ameaças

da EFE, em São Paulo

Em meio a um período de crescimento sólido, a economia brasileira afastou a crise com rapidez, mas as deficiências do sistema tributário, o frágil desenvolvimento tecnológico e a revalorização do real, que diminui a competitividade das exportações, ameaçam seu futuro.

A economia brasileira cresceu 9% no primeiro trimestre deste ano e o Governo prevê uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) próxima a 6,5% neste ano, projeção que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) eleva para 7,5%.

O diretor do departamento de pesquisas e estudos econômicos (Depecon) da Fiesp, Paulo Francini, considera que a criação de 1,47 milhão de novos postos de trabalho no primeiro semestre do ano e a ampliação contínua do crédito, devido em parte às medidas anticrise do Governo, levaram a um "fortalecimento do mercado interno".

Em entrevista à Agência Efe, Francini destacou que o Brasil evitou erros judiciais estruturais em seu sistema financeiro, que permanece "íntegro e muito regulado", e assegurou que "o problema era de crédito". Por isso, todos os segmentos econômicos que dependem dos fluxos de dinheiro foram duramente atingidos pela crise.

Francini deu como exemplos a indústria automobilística, que "sofreu uma freada forte", e a queda de 30% nas exportações brasileiras de produtos manufaturados como consequência da contração do comércio internacional.

"O setor mais afetado, que é a indústria, é também o que mais se recupera", disse o diretor do Depecon, ao acrescentar que as previsões de crescimento da indústria para este ano superam 11%.

Segundo dados divulgados hoje, a produção industrial teve uma expansão de 16,2% no primeiro semestre deste ano.

Os dados nacionais mostram que a recessão é coisa do passado, mas por trás da recuperação econômica se escondem fragilidades que podem prejudicar o crescimento macroeconômico e o desenvolvimento do país.

Francini apontou problemas no sistema tributário, que chamou de "confuso" e "disfuncional" e que em sua opinião precisa de "reforma total", já que as empresas dedicam "muito tempo e recursos humanos" para fazer o cálculo de seus impostos.

A falta de formação também é um dos pontos que podem ter um efeito negativo para o futuro da economia, segundo Francini, para quem o ensino básico está coberto, mas é de "baixa qualidade".

O diretor do Depecon também mencionou fraquezas no desenvolvimento tecnológico.

Além disso, o firme processo de revalorização do real, que foi interrompido pela crise e retomou a tendência de alta a partir do segundo trimestre de 2009, está diminuindo a competitividade das exportações brasileiras.

Francini disse que o Brasil pode se ver em uma situação parecida à chamada 'doença holandesa', expressão que se aplica à valorização da moeda local por excedente de divisas e que pode levar a uma perda de competitividade nos mercados internacionais.

O Brasil obteve um superávit comercial de US$ 1,358 bilhão em julho, dado que representa uma queda de 51,2% frente ao mesmo mês do ano passado.

No acumulado do ano, a diferença entre exportações e importações teve saldo positivo de US$ 9,237 bilhões, 45,1% a menos do que nos sete primeiros meses de 2009.

Também não é positivo o volume da economia formal, que representa 18,4% do PIB nacional segundo um recente estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV).

No entanto, na opinião de Francini, o Brasil caminha na direção certa e o "espaço para a informalidade (econômica) está sendo reduzido de forma contínua".

Postagens relacionadas

Solidez da economia brasileira convive com ameaças
4/ 5
Oleh

Assine via e-mail

Por favor inscreva-se para receber as ultimas postagens no e-mail.